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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Voluntariado

Quando tivemos a ideia de trabalhar sobre Síndrome de Down na Área de Projecto, percebemos que deveríamos ter contacto directo com portadores desta deficiência se queríamos de facto entender o dia-a-dia destas pessoas. Surgiu-nos então a ideia de fazer voluntariado numa associação de apoio a estes “jovens”. Acabámos por entrar em contacto com uma associação e daí a alguns dias lá estávamos nós, a falar com a assistente social responsável por aquela associação.
Foi uma conversa produtiva em que falamos sobre os nossos planos, sobre o que estávamos à espera de encontrar, mas principalmente demonstrámos a vontade que tínhamos em fazer voluntariado. Felizmente, descobrimos uma forma de interagir com aquelas pessoas de quem a associação cuida. Através da música. Todos nós adoramos música apesar de os nossos gostos e preferências não serem iguais. Concluímos que seria uma boa ideia pegar na guitarra e levá-la para a associação, tocar e cantar algumas músicas com o pessoal, e tentar dar mais alegria e cor ao local. Achámos que seria uma boa ideia passar uma boa meia hora com aqueles jovens, ver como eles reagiam à música, tentar chegar aos seus corações através da “plataforma inquebrável” que é a música, que derrete corações, muda pessoas e dá-nos razões e motivação para viver. E é esse o nosso plano. Ainda não começámos exactamente mas planeamos fazê-lo no espaço de aproximadamente uma semana.
Em seguida, a assistente social deu-nos a conhecer as instalações e algum do pessoal. Posso-vos dizer que a instituição está muito bem equipada e o pessoal que conhecemos foi todo impecável. A associação APADP, no Cacém, é de facto fenomenal. Uma boa associação se estiverem interessados em fazer voluntariado. Não trata apenas de portadores de Síndrome de Down obviamente, mas também de outros deficientes profundos.
O momento mais “forte” do dia foi, de facto, quando fomos conhecer a sala de convívio, onde estavam alguns destes “jovens”. Vieram imediatamente ter connosco. Foi neste preciso momento em que eu percebi o que o nosso trabalho representava. Percebi que a ideia de ir fazer voluntariado com deficientes, é uma ideia que temos quando estamos confortavelmente sentados no sofá de casa, sem estarmos realmente cientes do que significa. É claro que tínhamos noção de que ia ser difícil, mas a noção real só temos quando chegamos lá e olhamos para aquelas pessoas, e para as reacções que têm e pensamos em como lidar com eles. Agora vou falar por mim e não pelos meus colegas. Podia mentir e dizer que não tive dúvidas quanto ao que estávamos prestes a fazer. Mas a verdade é que naquele momento não tive certezas de nada. Ao olhar para aquelas pessoas houve uma parte de mim que achou que aquilo tudo não era boa ideia, e que se estava a acobardar. Mas ao mesmo tempo houve uma parte muito forte de mim quis ficar.
Ao ver aquelas pessoas percebi que quase todos os problemas e futilidades que nós vivemos no nosso dia-a-dia não têm sentido. Muitas das coisas em que acreditava em relação ao mundo em que vivemos e em como encaramos a vida perderam o seu significado. Convivi com pessoas que têm grandes “problemas”, mas que vivem de certa forma felizes na sua simplicidade. Pessoas deficientes? Não sei se é esse o nome que lhes devo dar. É verdade que ser deficiente mental é algo muito complicado, mas será um infortúnio do destino ou uma bênção? Eu penso que é um pouco de ambas as coisas. Porque apesar de serem deficientes, em nenhum momento da nossa vida, nós, pessoas “normais” conseguiremos ter metade, da bondade, da simplicidade, e da humildade que aqueles seres têm.
Talvez tudo isto soe um bocado exagerado e cruel mas é nisso que eu acredito. E agarrei-me àquela parte de mim que quis ficar e ajudar aquelas pessoas e assim foi. Agora estou mais que decidido. Provavelmente vais ser difícil no início. Mas nem eu, nem os meus colegas estamos dispostos a desistir.
Quando estávamos quase a abandonar a sala, demos de cara com o “Tó”, um utente daquela instituição que tem Síndrome de Down. Apesar de não nos conhecer, eles mostrou-se afectuoso, como qualquer pessoa com aquela “característica” se apresenta. Abraçou imediatamente a nossa colega Andreia, e ficou algum tempo agarrado a ela. Quando eu lhe dei um aperto de mão ele benzeu-se. Foi uma atitude engraçada de facto e quando me lembro disso ainda solto algumas gargalhadas. Parece que o “Tó” se sentiu, digamos, intimidado pelo meu aspecto e figura. Abandonámos o local, não sem antes levarmos, cada um de nós, um forte abraço do “Tó”. Enquanto íamos para casa, a nossa cabeça trabalhava à mil a hora com ideias sobre o que fazer durante o voluntariado e sobre que músicas trazer para alegrar o pessoal, ao mesmo tempo que crescia em nós uma ânsia por começar a trabalhar a sério com aquelas pessoas que merecem uma chance de viver, e de sonhar como todos nós.
Acreditem ou não, mas os escassos minutos em que convivemos com aqueles “jovens”, alteraram a minha maneira de ver a vida e o mundo, e fizeram de mim uma pessoa melhor.

Abraços, Rafa

5 comentários:

  1. Eu fico alegre por saber que vocês abraçaram esta nobre causa.

    Eu tenho um familiar que padece desta doença, e entendo todas as dificuldades que vocês sentiram e/ou irão sentir ao ajudá-los. Contudo, espero que isso não passe de fúteis barreiras ao vosso apoio, o qual é encessário, e que, para além disso, tenham uma GRANDE nota.

    Algumas sugestões que vos posso dar, para além da música que vocês colocaram, seriam: "Hora do Desenho", aposto que muitos deles gostam de desenhar, seria divertido para ambas as partes; e, verem se é possível levarem alguns filmes que achassem interessantes para todos verem.

    Abraços e desejos de tudo de bom ;D

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  2. Achei uma grande ideia da vossa parte irem a uma instituição voluntariarem-se para ajudar estas pessoas, que infelizmente muita gente despreza e abandona (como até vocês dizem 'sindrome do preconceito'). De certo que muita gente desistiria assim que se deparasse com estes "jovens" e fico feliz por saber que a vossa força de vontade em os ajudar não deixou isso acontecer! tenho certeza que assim que começarem vão tornar os dias destas pessoas mais felizes :)

    E inteligente foi o Tó de abraçar logo a Andreia :P

    Beijos e continuação de um bom trabalho :D


    (Bom texto, Rafa! ^^)

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  3. É bonito ver como há pessoas que gostam de apoiar este tipo de instituições e que com pequenos gestos fazem outras pessoas muito felizes e o que recebem em "troca" (como aqueles pequenos que acabam por ser grandes gestos) acredito que seja realmente gratificante. Já agora gostaria de saber porquê que acham que é a sindrome do preconceito? qualquer deficiencia é motivo de preconceitos, ser gordo é motivo de preconceito, ser gay é motivo de preconceito, a sociedade está cheia destes preconceitos e estereotipos, na minha opinião esse titulo dá um ar de "coitadinhos" a estas pessoas com esta deficiencia, e disso não têm nada...sãouns verdadeitos herois! Continuação de um bom trabalho

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  4. Bem pessoal tem o meu apoio a 100% e espero vosso trabalho seja reconhecido no final do ano lectivo tal como o meu foi o ano passado, ver que este trabalho a ser feito faz-me acreditar que podemos mudar este mundo pouco a pouco e é com esta juventude que isto é possível.

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  5. Primeiro que tudo tenho de dizer, embora já saibas, que és o meu orgulho e com tudo isto ainda mais. Acho excelente a ideia do voluntariado, é óptimo não só porque vão ajudar quem realmente precisa mas também porque vai ajudar-vos a crescer como pessoas. É realmente notável o que estão a fazer, é um grande acto de coragem que muito gente não tem. E a ideia da música é brutal, tenho a certeza que vão adorar e que vai correr na perfeição! :)
    Espero que corra tudo bem com o vosso projecto, divirtam-se a realizá-lo e empenhem-se porque é mesmo uma oportunidade única.
    Beijinhos e boa sorte com tudo! =D

    (p.s. bom texto Rafinha! adoro-te bué :b)

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